Áudios
Milton Nascimento: Raridades analógicasArte de Marcela Souza
Arte de Marcela Souza
Playlists
21.8.2022

Milton Nascimento: Raridades analógicas

As quatro primeiras gravações de Milton Nascimento são de 1964, ao lado do Conjunto Holiday (com Wagner Tiso ao piano). Reunidas no compacto duplo “Barulho de trem” e hoje esquecidas, elas abrem esta playlist especial preparada por Renato Vieira. O jornalista, que realizara trabalho semelhante com Chico Buarque, localizou outros registros raros do cantor, que completa 80 anos em 2022. Nenhuma das faixas está disponível nas plataformas digitais. A lista termina com um spot de rádio em que Milton divulga o LP “Clube da Esquina”.

Criação, pesquisa e texto: Renato Vieira

Agradecimentos: Anderson Cesarini, Edu Pampani, Ivan Dwyer e Thiago Marques Luiz

Repertório

1) Barulho de trem (Milton Nascimento) – com Conjunto Holiday, 1964. Do compacto duplo “Barulho de trem”, Dex Discos do Brasil – DJC0476. Liderado pelo baterista Rogério Lacerda, o Conjunto Holiday saiu de Belo Horizonte em direção a São Paulo para gravar um compacto duplo com quatro faixas pelo pequeno selo Dex Discos do Brasil, marcando o primeiro registro profissional de Milton Nascimento (vocal e violão), Marilton Borges (o mais velho dos irmãos Borges era o outro vocalista), Wagner Tiso (piano) e dos outros músicos do grupo. “Barulho de trem” é uma composição de Milton, que por décadas a renegou, até reabilitá-la no álbum “Crooner” (1999).

2) Aconteceu (Wagner Tiso e Milton Nascimento) – com Conjunto Holiday, 1964. Do compacto duplo “Barulho de trem”, Dex Discos do Brasil – DJC0476. Esta canção, nunca regravada, foi a primeira de Milton que Elis Regina ouviu. Ela o conheceu durante uma festa na casa da cantora Luiza, na qual Milton e Wagner cantaram “Aconteceu”. Tempos depois, ela reencontrou Milton e pediu que ele fosse até a casa dela mostrar a música para possivelmente gravar em disco. Milton foi até lá, mas não se sentiu à vontade para interpretar justamente “Aconteceu”. Elis acabou optando por “Canção do sal”, que registraria em álbum de 1966.

3) Férias (Wagner Tiso) – com Conjunto Holiday, 1964. Do compacto duplo “Barulho de trem”, Dex Discos do Brasil – DJC0476. O chá-chá-chá era um dos ritmos em voga nos anos 1960. Com base nele, Wagner Tiso criou esse tema instrumental, com vocalises de Milton e Marilton.

4) Noite triste (Milton Nascimento e Mauro Oliveira) – com Conjunto Holiday, 1964. Do compacto duplo “Barulho de trem”, selo Dex Discos do Brasil – DJC0476. Samba-canção de Milton em parceria com Mauro Oliveira jamais regravado. É a única faixa do compacto duplo do Conjunto Holiday em que Milton faz um solo vocal.

5) Canção do sal (Milton Nascimento) – com Aécio Flávio Sexteto, 1965. Do álbum “Música Popular Brasileira em expansão”, selo Festival – FLP 2. Produzido por Ismael Corrêa.

Esta é a primeira gravação da música, anterior à de Elis Regina. É a faixa de abertura do álbum coletivo “Música Popular Brasileira em expansão”, registro parcial de estúdio do Festival Mineiro de Música Popular Moderna. O evento, ocorrido no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, em junho de 1965, foi apelidado pelos participantes de “festival da fome”: somente poucos cadetes estavam na plateia. Quem acompanha Milton nesta faixa é o sexteto do pianista belo-horizontino Aécio Flávio, responsável pelo contato com o produtor Ismael Corrêa, dono do selo Festival, que lançou o disco.

6) Tamba (Luiz Eça) – com Berimbau Trio, 1965. Do álbum “Música Popular Brasileira em expansão”, selo Festival – FLP 2. Produzido por Ismael Corrêa.

Formado por Milton Nascimento (vocal e contrabaixo), Wagner Tiso (vocal e piano) e Paulinho Braga (vocal e bateria), o Berimbau Trio foi criado para tocar em uma boate de mesmo nome localizada no centro de Belo Horizonte. Aqui, eles homenageiam sua principal referência: o Tamba Trio, interpretando o tema de abertura do primeiro álbum do grupo liderado por Luiz Eça.

7) Chegança (Edu Lobo e Oduvaldo Vianna Filho) – com Berimbau Trio e Marilton Borges, 1965. Do álbum “Música Popular Brasileira em expansão”, selo Festival – FLP 2. Produzido por Ismael Corrêa. Composta para o espetáculo “Os Azeredos mais os Benevides”, “Chegança” foi a primeira música de Edu Lobo a repercutir, sendo incorporada ao repertório de trios instrumentais e de intérpretes como Elis Regina e Nara Leão. A gravação original de Edu, do disco “A música de Edu Lobo por Edu Lobo” (1964), tem o acompanhamento do Tamba Trio. Nesta releitura do Berimbau Trio, quem faz o solo vocal é Marilton Borges. Milton toca contrabaixo e faz vocais.

8) Tema dos deuses (Milton Nascimento) – com Som Imaginário, 1970. Do álbum “O fino da música no cinema brasileiro” (1971), Museu da Imagem e do Som/RJ – MIS 023. Arranjo de Milton Nascimento. A trilha do filme “Os deuses e os mortos” (1970), de Ruy Guerra, foi composta por Milton Nascimento. “Tema dos deuses” seria regravada para o álbum “Milagre dos peixes” (1973), mas a versão original foi incluída em um álbum do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro que reuniu músicas feitas para longas-metragens.

9) Cravo e canela (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – com Lô Borges, Beto Guedes e Som Imaginário, 1971. Do compacto simples Odeon 7B-492. Acompanhados pelo Som Imaginário, Milton e os novatos Lô Borges e Beto Guedes entraram em estúdio para gravar um compacto simples em meados de 1971. Esta versão de “Cravo e canela”, que é diferente da que entraria no disco “Clube da Esquina” (1972), cita na letra a atriz Dina Sfat, a musa da canção.

10) Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – com Lô Borges, Beto Guedes e Som Imaginário, 1971. Do compacto simples Odeon 7B-492. Primeira versão autoral de “Nada será como antes”, com arranjo e tonalidade diferente da incluída no disco “Clube da Esquina”.

11) Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), ao vivo no Festival de Montreux, 1982. Do álbum “Brazil Night” – Ao vivo em Montreux” (1983), Ariola 201913. Produzido por Mazola. Depois de ter participado de um show de Flora Purim no Festival de Montreux, na Suíça, Milton retornou ao evento para fazer um show próprio em 1982. Alguns momentos da apresentação foram selecionados para um disco que também continha faixas de Alceu Valença e Wagner Tiso – líder da banda de Milton no festival. “Fé cega, faca amolada” foi lançada originalmente no LP “Minas” (1975).

12) Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant), ao vivo no Festival de Montreux, 1982. Do álbum “Brazil Night – Ao vivo em Montreux” (1983), Ariola 201913. Produzido por Mazola. Também incluída no repertório do disco “Minas”, “Ponta de areia” foi interpretada por Milton em seu primeiro show solo em Montreux.

13) Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant), ao vivo no Festival de Montreux, 1982.  Do álbum “Brazil Night – Ao vivo em Montreux” (1983), Ariola 201913. Produzido por Mazola. Outro grande sucesso de Milton, gravado no álbum “Clube da Esquina 2” (1978), que ele interpretou naquele primeiro show em Montreux.

14) Coração de estudante (Wagner Tiso e Milton Nascimento), 1984. Da trilha sonora do especial “Tiradentes, nosso herói”, Ariola 821374. Direção artística de Mazola. Direção musical de Wagner Tiso. A música foi feita por Wagner Tiso para o filme “Jango”, de Sílvio Tendler. Posteriormente, o tema ganhou letra de Milton e entrou no álbum “Milton Nascimento ao vivo” (1983). Mas o cantor e compositor regravou a música em estúdio para o especial “Tiradentes, nosso herói”, exibido pela TV Globo em abril de 1984. Esta rara versão está no disco com a trilha sonora do programa de TV, jamais reeditado.

15) Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant), ao vivo no Festival Internacional da Canção, 1967. Do álbum “II Festival Internacional da Canção Popular” (1967), Codil 13003. Arranjo de Eumir Deodato. Direção artística de Agostinho dos Santos. Versão do primeiro grande sucesso de Milton, captada no Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, em outubro de 1967. A música foi a vice-campeã. A faixa saiu em CD no box “Festivais da Canção (Discobertas)”, hoje fora de catálogo, mas foi incluída nesta seleção por sua relevância histórica.

16) Morro velho (Milton Nascimento), ao vivo no Festival Internacional da Canção, 1967. Do álbum “II Festival Internacional da Canção Popular” (1967), Codil 13003. Arranjo de Eumir Deodato. Direção artística de Agostinho dos Santos. Naquele Festival Internacional da Canção de 1967, Milton também interpretou “Morro velho”, incluída em seu primeiro disco individual. A faixa saiu em CD no box “Festivais da Canção” (Discobertas), hoje fora de catálogo, mas foi incluída nesta seleção por sua relevância histórica.

17) Spot de rádio com “San Vicente” (Milton Nascimento e Fernando Brant) de fundo musical. Disco promocional invendável – Odeon DP 488. Raríssimo spot de rádio que serviu de divulgação do álbum “Clube da Esquina”, incluído em um disco promocional da Odeon enviado para emissoras. Nele, Milton diz que “San Vicente” “é uma das músicas incluídas na programação desta emissora”.

  • Milton Nascimento

Conteúdo relacionado