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Música para quem não tem pressa – ‘Tempo feliz’, de Baden Powell
Playlists
13.5.2020

Música para quem não tem pressa – ‘Tempo feliz’, de Baden Powell

Texto e seleção de Reinaldo Figueiredo.

Continuamos aqui a nossa busca insaciável pelos discos perfeitos, isto é, aqueles que você pode ouvir de uma vez, da primeira à última faixa, sem interrupções. E chegamos a uma joia do jazz brasileiro: Tempo feliz, de Baden Powell, um LP lançado em 1966, pelo selo Forma, dos produtores Roberto Quartin e Wadi Gebara. Quartin explica, no texto da contracapa, que o disco nasceu numa madrugada em que eles estavam na sua casa com alguns músicos, entre eles Baden Powell e “um rapaz muito tímido, de nome Maurício, com gaitas de todas as espécies, mas também com desculpas de todas as espécies para não usá-las”. Mas as horas foram passando, o violão suingado do Baden deixou Maurício Einhorn mais à vontade, e ele acabou mostrando tudo o que sabia fazer com aquele pequeno instrumento, a harmônica.

Os produtores da Forma já estavam se preparando para lançar um novo disco, que se chamaria “A Volta de Baden”, marcando o retorno de Baden Powell ao Brasil, depois de passar uns tempos em Paris. Mas, durante aquela jam session na madrugada, resolveram incluir o jovem Maurício Einhorn na jogada.

O disco foi gravado em 24 e 25 de janeiro de 1966, com o apoio de uma cozinha formada por Edson Lobo no contrabaixo e Chico Batera, obviamente, tocando o seu “sobrenome”. Maurício Einhorn participou de quatro das oito faixas, e colaborou com a composição Pro Forma, que é uma referência ao nome do selo. Pro Forma é uma valsa jazzística, parceria de Maurício com o violonista Arnaldo Costa. E o disco termina de forma sutil, só com Baden e seu violão, tocando a faixa-título.

Como se isso tudo não bastasse, o LP também tem uma ótima capa, com foto de Pedro de Moraes e projeto gráfico de Goebel Weyne.

O disco não tem pontos fracos mas, dentre os muitos pontos altos, talvez o mais alto seja a faixa Consolação. Aí, nesses quase oito minutos, os quatro craques se dedicam a fazer jazz brasileiro com a maior garra e determinação.

Repertório

Vou por aí (Baden Powell e Aloysio de Oliveira) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo), Chico Batera (bateria) e Maurício Einhorn (harmônica)

Apelo (Baden Powell e Vinicius de Moraes) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo) e Chico Batera (bateria)

Chuva (Durval Ferreira e Pedro Camargo) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo), Chico Batera (bateria) e Maurício Einhorn (harmônica)

Deixa (Baden Powell e Vinicius de Moraes) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo) e Chico Batera (bateria)

Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo), Chico Batera (bateria) e Maurício Einhorn (harmônica)

Sem saber (Otto Gonçalves Filho) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo) e Chico Batera (bateria)

Pro Forma (Maurício Einhorn e Arnaldo Costa) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo), Chico Batera (bateria) e Maurício Einhorn (harmônica)

Tempo feliz (Baden Powell e Vinicius de Moraes) – Baden Powell

O acervo pessoal de Baden Powell está sob a guarda do IMS.