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28.4.2020
Música para quem não tem pressa – Love and peace, de Dee Dee Bridgewater
Texto e seleção de Reinaldo Figueiredo.
Seguindo com a nossa proposta de usar o tempo livre dentro de casa para ouvir um disco, LP ou CD inteiro, do início ao fim, vamos sugerir mais um álbum que não tem pontos fracos e dá aquela sensação de unidade e perfeição. É um CD da cantora Dee Dee Bridgewater dedicado à obra do pianista e compositor Horace Silver. O título é Love and peace e foi lançado em 1995.
O disco foi produzido por ela mesma, e dá para perceber o cuidado que teve com todos os detalhes, desde a escolha do repertório até o capricho nos arranjos, escritos pelo contrabaixista holandês Hein Van De Geyn, que na época fazia parte do grupo que acompanhava a cantora. Nesse tempo, Dee Dee Bridgwater morava na França e seus outros músicos eram os franceses Thierry Eliez no piano, André Ceccarelli na bateria, e mais dois irmãos: Stéphane Belmondo no trompete e Lionel Belmondo no sax tenor.
Para botar uma cereja no bolo, ou melhor, duas cerejas, Dee Dee Bridgewater mandou vir, direto dos Estados Unidos para o estúdio em Paris, o próprio Horace Silver e o organista Jimmy Smith, que gravaram duas faixas cada um. Horace Silver tocou em Nica’s dream e Song for my father. E Jimmy Smith botou aquele molho do seu órgão Hammond em Filthy McNasty e The Jody Grind.
Outro detalhe interessante do disco é que Horace Silver era um compositor que fazia letras para suas melodias, mesmo que não fossem usadas em seus próprios discos, já que eram quase todos instrumentais. Mas Dee Dee Bridgewater queria gravar algumas músicas que ainda não tinham letra e fez um apelo ao compositor. Horace Silver, que na época ainda estava em turnês mundiais com seu quinteto, usou as horas vagas em hotéis e aeroportos para dar conta da encomenda, e aproveitou para refazer umas letras que ele queria mudar. E ficou tudo muito bem acabado, com boas ideias, rimas criativas e uns toques de humor.
Ouvindo este disco do início ao fim, a gente fica conhecendo todos os recursos de uma boa cantora de jazz, tanto em melodias suaves quanto em improvisos arrasadores. É como se ela fosse mais um dos instrumentistas do grupo. Na faixa Doodlin’, por exemplo, ela chega a imitar o som de um instrumento. No caso, um trompete com aquele efeito de wah-wah.
Essa combinação de Horace Silver com Dee Dee Bridgwater tinha que dar certo. E deu.
Repertório (Todas as composições são de Horace Silver.)
Permit me to introduce you to yourself
Nica’s dream
The Tokyo blues
Pretty eyes
Saint Vitus dance
You happened my way
Soulville
Filthy McNasty
Song for my father
Doodlin’
Lonely woman
The Jody Grind
Blowin’ the blues away