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23.6.2020
Música para quem não tem pressa – Clube da Esquina
Texto e seleção de Luiz Fernando Vianna.
O Clube da Esquina nunca foi um clube. O nome saiu de uma esquina onde amigos se encontraram durante algum tempo e virou uma canção em 1970. Também nunca foi um movimento, embora até hoje seja, com frequência, tratado como tal. Em entrevista ao “Jornal da Tarde” em abril de 1972, citada na biografia escrita por Maria Dolores, Milton Nascimento afirmou: “Não pertenço a nenhum grupo (…), não quero que exista um ‘grupo mineiro’. Sou contra essas máfias regionais. A gente está junto, trabalhando junto, porque tem um monte de coisas para mostrar. E é só isso”.
Milton errou no “só isso”. Clube da Esquina, o álbum duplo (formato então raríssimo no Brasil) lançado naquele 1972, tinha 21 faixas de alta qualidade, 19 delas inéditas. A junção de Minas, Beatles, liberdade na arte e no modo de viver gerou um acontecimento de enorme impacto, a ponto de parecer um movimento. Caetano Veloso, criador do tropicalismo (este sim um movimento), disse algumas vezes que o Clube da Esquina foi mais importante do que as realizações que ele, Gilberto Gil e outros tinham feito anos antes.
A ousadia também esteve nos nomes à frente do projeto: o já famoso Milton Nascimento, de 30 anos, ao lado do desconhecido Lô Borges, de apenas 20. Quase todas as composições e interpretações eram do sexteto-base do clube: Milton, Lô, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Beto Guedes. Tudo gravado em apenas dois canais, no estúdio da Odeon, no Rio. Um milagre que permanece forte e irreprodutível, embora tremendamente influente.
Em 1978 surgiu o Clube da Esquina 2, aí só com o nome de Milton na capa. Mais gente estava no clube democrático: Elis Regina, Chico Buarque, Francis Hime, Novelli, Joyce Moreno, Boca Livre. Outro álbum duplo, outro repertório de primeira, ainda que com as faixas menos azeitadas entre si, por causa da diversificação maior de autores.
Para a série “Música para quem não tem pressa”, selecionamos 20 músicas: 11 do primeiro “Clube”, nove do segundo. E poderiam ser mais, é claro. Mas já é uma dose forte de beleza e vitalidade.
Repertório
Tudo que você podia ser (Lô Borges e Márcio Borges) – Milton Nascimento
Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento
O trem azul (Lô Borges e Ronaldo Bastos) – Lô Borges
Nuvem cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento
Cravo e canela (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento
Um girassol da cor dos seus cabelos (Lô Borges e Márcio Borges) – Lô Borges
San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant) – Milton Nascimento
Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant) – Lô Borges
Me deixa em paz (Monsueto e Ayrton Amorim) – Milton Nascimento e Alaíde Costa
Um gosto de sol (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento
Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento e Beto Guedes
Olho d’água (Paulo Jobim e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento
Canoa, canoa (Nelson Angelo e Fernando Brant) – Milton Nascimento
O que foi feito devera/O que foi feito de Vera (Milton Nascimento, Fernando Brant e Márcio Borges) – Milton Nascimento e Elis Regina
Mistérios (Maurício Maestro e Joyce Moreno) – Milton Nascimento e Boca Livre
Canção amiga (Milton Nascimento e Carlos Drummond de Andrade) – Milton Nascimento
Dona Olímpia (Toninho Horta e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento
Testamento (Milton Nascimento e Nelson Angelo) – Milton Nascimento
Léo (Milton Nascimento e Chico Buarque) – Milton Nascimento
Meu menino (Danilo Caymmi e Ana Terra) – Milton Nascimento