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Dona Ivone Lara, a senhora da canção
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18.4.2018

Dona Ivone Lara, a senhora da canção

Com base em um levantamento feito pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais) sobre as composições de Dona Ivone Lara mais regravadas, Lucas Nobile preparou esta playlist com os grandes sucessos da artista. Nobile é autor de Dona Ivone Lara: a Primeira-Dama do Samba (Musickeria/Sonora), biografia lançada em 2015. O jornalista também foi consultor da Ocupação Dona Ivone Lara, exposição realizada pelo Itaú Cultural.

1 – Sonho meu (Ivone Lara e Delcio Carvalho) – com Dona Ivone Lara

Graças à participação fundamental da violonista Rosinha de Valença, Dona Ivone Lara foi apresentada a Maria Bethânia. Era 1978, e a cantora baiana selecionava o repertório de seu novo álbum, Álibi. Lançado no mesmo ano, o LP fez com que Bethânia se tornasse a primeira mulher a superar a marca de 1 milhão de discos vendidos no Brasil. Em meio a um repertório recheado de ótimas canções – como “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil; “Ronda”, de Paulo Vanzolini; “Negue”, de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos; “Explode coração”, de Gonzaguinha; “Álibi”, de Djavan; e “Diamante verdadeiro”, de Caetano Veloso -, “Sonho meu”, parceria de Ivone Lara e Delcio Carvalho, se tornou sucesso nacional nas vozes de Bethânia e Gal Costa, cantando em duo. Ainda na década de 1970, críticos como José Ramos Tinhorão apontavam a semelhança da melodia de “Sonho meu” com o ponto do Caboclo Suará, regravado em 1968 por J.B. de Carvalho. A explicação mais plausível é que o ponto, registrado em 1930, tenha marcado profundamente Dona Ivone desde sua infância, influenciando-a até o momento da criação de “Sonho meu”.

2 – Acreditar (Ivone Lara e Delcio Carvalho) – com Dona Ivone Lara

Outro sucesso instantâneo, o samba de Dona Ivone com seu parceiro mais constante, Delcio Carvalho, foi gravado por Roberto Ribeiro em 1976, dois anos antes do lançamento do primeiro disco solo da cantora e compositora nascida no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Em 1979, no segundo álbum de sua carreira, Sorriso de criança, Ivone Lara gravou “Acreditar” num pot-pourri que incluía ainda “Sonho meu”, “Liberdade”, “Tiê” e “Andei para Curimá”. É um dos sambas da artista mais cantados nas rodas de samba espalhadas por todo o Brasil.

3 – Tendência (Ivone Lara e Jorge Aragão) – com Dona Ivone Lara

Obra-prima de Ivone Lara com Jorge Aragão, este samba – como na maioria das vezes – tem música da compositora e letra do parceiro. Os versos de Aragão, muito bem enlaçados na melodia sinuosa de Ivone, tratam de um tema recorrente na obra dela: relacionamentos amorosos, com seus sabores e dissabores habituais e universais. Com produção de Sérgio Cabral, arranjos e regências de Rosinha de Valença, “Tendência” foi gravada por Dona Ivone no terceiro álbum de sua carreira, Sorriso negro, de 1981.

4 – Mas quem disse que eu te esqueço (Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho) – com Paulinho da Viola

Além de Delcio Carvalho, Dona Ivone Lara também estabeleceu parcerias – ainda que episódicas – com outros grandes nomes da música brasileira. Um deles foi Hermínio Bello de Carvalho. Em 1983, o produtor e letrista entregou a Sérgio Ricardo uma letra que fizera havia pouco tempo. O cantor e compositor não deu nenhum retorno sobre aqueles versos e Hermínio os apresentou a Dona Ivone em um hotel durante uma turnê pelo projeto Pixinguinha. Duas horas depois, ela telefonou para o quarto do mais novo parceiro, dizendo que a música estava pronta. Era “Mas quem disse que eu te esqueço”, lindo samba gravado no mesmo ano por Paulinho da Viola em seu disco Prisma luminoso.

5 – Alguém me avisou (Ivone Lara) – com Dona Ivone Lara

Durante certo tempo, houve quem dissesse que Dona Ivone Lara era uma grande melodista. Com tal afirmação, havia um subtexto, uma mensagem sutil (e um tanto desinformada) de que ela não seria boa letrista. Um sucesso estrondoso acabou derrubando por terra qualquer tipo de especulação. Em 1980, após o estouro de “Sonho meu”, Maria Bethânia voltou a gravar um samba de Ivone Lara, autora, neste caso, de letra e música. No disco Talismã, a cantora baiana interpretou “Alguém me avisou” ao lado dos conterrâneos Caetano Veloso e Gilberto Gil. No ano seguinte, a própria compositora deu voz à sua mais recente criação, no álbum Sorriso negro.

6 – Enredo do meu Samba (Ivone Lara e Jorge Aragão) – com Dona Ivone Lara e Jorge Aragão

Outra joia da parceria Ivone Lara/Jorge Aragão, a composição ganhou letra inspiradíssima do compositor lançado no Cacique de Ramos. Nela, Aragão usa um desfile de escola de samba como metáfora para tratar de um insucesso amoroso. Gravado pelo Fundo de Quintal em 1984, o samba ganhou repercussão nacional no mesmo ano, na voz de Sandra de Sá, ao ser incluído na trilha sonora da novela Partido alto, da Rede Globo.

7 – Alvorecer (Ivone Lara e Delcio Carvalho) – com Clara Nunes

Desde a década de 1960, Dona Ivone Lara já era consagrada no universo das escolas de samba. Porém, ela só pôde se dedicar exclusivamente a uma carreira fonográfica a partir de 1978, quando lançou seu primeiro disco solo, Samba, minha Verdade, samba, minha raiz. Até então, Ivone voltava a maior parte do tempo para a sua atividade de formação, a enfermagem e a assistência social, cuidando de pacientes com distúrbios mentais durante 37 anos. Em 1974, mesmo sem ainda ter gravado um álbum solo, ela já ouvia suas composições ganharem o país nas vozes de intérpretes conhecidas. Naquele ano, Clara Nunes gravou “Alvorecer”, de Dona Ivone e Delcio Carvalho. A faixa batizou o LP da cantora mineira, chegou à marca de 400 mil cópias vendidas.

8 – Nasci pra sonhar e cantar (Ivone Lara e Delcio Carvalho) – com Dona Ivone Lara

Samba dolente de Ivone Lara e Delcio Carvalho, “Nasci pra sonhar e cantar” escancara uma das grandes influências da formação musical da artista: o choro. Desde a infância, ela convivia com seu tio Dionísio, que promovia saraus em casa com nomes como Pixinguinha e Jacob do Bandolim. A pequena Ivone, que aprendera a tocar cavaquinho (com afinação de bandolim) com o tio, não apenas escutava atentamente os choros, mas também se apresentava tocando para aqueles veteranos. Com produção de Rildo Hora, “Nasci pra sonhar e cantar” foi gravada por Dona Ivone Lara no disco Alegria, minha gente (Serra dos meus sonhos dourados), de 1982.

9 – Os cinco bailes da história do Rio (Ivone Lara, Silas de Oliveira e Antonio Bacalhau) – com Wilson das Neves

Em 1965, Silas de Oliveira (considerado o maior compositor de sambas-enredo em todos os tempos) e Antonio Bacalhau trabalhavam em um novo samba para o Império Serrano. Com dificuldades em concluí-lo, eles contaram com a inspiração de Ivone Lara, que já frequentava a escola por laços familiares desde a antecessora Prazer da Serrinha. Para o projeto Sambabook, o também imperiano Wilson das Neves fez uma gravação antológica.

10 – Liberdade (Ivone Lara e Delcio Carvalho) – com Roberto Ribeiro

Outro sucesso da parceria Ivone Lara/Delcio Carvalho, o samba traz versos certeiros do poeta e melodia belíssima da compositora, principalmente na segunda parte, na contramão de qualquer clichê. Uma das gravações mais marcantes foi feita por Roberto Ribeiro, abrindo o disco Poeira pura, de 1977.

11 – Tiê (Ivone Lara, Mestre Fuleiro e Tio Hélio) – com Dona Ivone Lara

Gravado por Dona Ivone em 1974, no disco Quem Samba… Fica!, com produção de Adelzon Alves, o samba contou com arranjos de João Donato. Inspirado na história de um pássaro tiê-sangue que Ivone tinha na infância, a música foi criada quando ela tinha apenas 12 anos de idade, em parceria com os primos Mestre Fuleiro e Tio Hélio.

Seleção e textos: Lucas Nobile

Edição: Filipe Di Castro

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