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2.6.2021
João Gilberto e Astrud em casa de Carlos Coqueijo, 10/9/1959
Em setembro de 1959, João Gilberto estava no centro da música brasileira. Seu primeiro LP, Chega de saudade, tinha sido lançado sete meses antes e firmado o estilo que ganhou o nome de bossa nova. Em Salvador, na casa do jurista, músico e cronista baiano Carlos Coqueijo Costa, seu amigo, João ficou à vontade para interpretar canções que já eram do seu repertório, outras que ainda incluiria em discos e 13 que jamais viria a gravar. Estas últimas são classificadas aqui como inéditas. Sua então mulher, Astrud Gilberto, fez duo com ele em alguns momentos.
É a primeira vez que esse material vem a público, juntamente com outros dois gravados em fitas de rolo por Coqueijo. (Os links estão nesta página, mais abaixo, após o repertório.)
Aydil Coqueijo, viúva de Carlos, passou para fitas cassete e, mais tarde, encomendou a digitalização. Repassou uma cópia para a pesquisadora Edinha Diniz, que cedeu os áudios à Batuta.
Sobre Coqueijo (1924-1988): é autor (com Alcyvando Luz) de É preciso perdoar, samba que João incluiu em três discos, a começar pelo seu “álbum branco”, de 1973. Como jurista, chegou a ministro do Tribunal Superior do Trabalho. Como artista e amigo de artistas, apresentou Caetano Veloso a João Gilberto, e Nara Leão ao grupo baiano. Foi professor de Gilberto Gil na faculdade de administração.
Repertório
Comigo é assim (José Menezes e Luiz Bittencourt) (3:47) – João Gilberto (voz e violão). Canção inédita na sua discografia. Foi lançada pelo conjunto Os Cariocas em 1952. João se recrimina : “Às vezes eu ainda atrapalho a letra. É bom quando não procura mais a letra na cabeça. Ela vem no sangue”.
Let’s fall in love (Harold Arlen e Ted Koehler) (2:58) – Astrud Gilberto (voz) e João Gilberto (violão, vocal e assobio). Inédita. A canção é um clássico da música popular americana.
A felicidade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) (5:13) – João Gilberto (voz e violão), Astrud e outros (vocais). Composta para o filme Orfeu do carnaval (1959), a música foi gravada por Agostinho dos Santos para a trilha e por João para um compacto lançado no mesmo ano. Na casa de Coqueijo, João canta uma parte da letra que não consta das duas gravações e que ele só registraria no disco ao vivo feito no Festival de Montreux e lançado em 1986: “A felicidade é uma coisa louca / e tão delicada também / tem flores e amores / de todas as cores / tem ninhos de passarinho / tudo bom ela tem / pois é por ela ser assim tão delicada / que eu trato dela sempre muito bem”.
Manhã de carnaval (Luiz Bonfá e Antônio Maria) (4:41) – João Gilberto (voz e violão). Sua gravação foi lançada em 1959, e João demonstra, na casa de Coqueijo, não ter ficado satisfeito com a forma com que encerrou a gravação: “Acabei por causa do Bonfá. Vou fazer como ele quer”. Na fita ele não canta a letra. No final, pede algo para apoiar o pé.
O bem do amor (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli) (2:55) – João Gilberto (voz e violão). Inédita. Nas anotações da fita aparece “Valsa (Carlos Lyra)”.
Brigas, nunca mais (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) (5:53) – João Gilberto (voz e violão) e Astrud Gilberto (voz). Incluída no LP Chega de saudade, lançado em março daquele ano, 1959. Ele comenta: “Essa letra pode não ser profunda, mas os sons das palavras são bons”.
Foi a noite (Tom Jobim e Newton Mendonça) (3:45) – João Gilberto (voz, assobio e violão) com participação de Walter Santos (voz). Inédita. As duas primeiras gravações são de 1956, por Osni Silva e Sylvia Telles.
Este seu olhar (Tom Jobim) (1:46) – Astrud Gilberto (voz) e João Gilberto (violão). Em 1959, João tocou violão na gravação do cantor Luiz Cláudio. O seu primeiro registro entrou no LP João Gilberto (1961).
Vamos cantar (Cristóvão de Alencar e Newton Teixeira) (3:10) – João Gilberto (voz, violão, vocais e assobio), Astrud Gilberto (voz) e outros (vocais). Inédita. Foi lançada por Orlando Silva em 1940.
Let’s fall in love (Harold Arlen e Ted Koehler) (1:47) – Astrud Gilberto (voz) e João Gilberto (violão e vocal). Os dois voltam ao standard da música americana.
Eu sonhei que tu estavas tão linda (Lamartine Babo e Francisco Matoso) (2:40) – João Gilberto (voz e violão). Inédita. Ele recomenda no início: “Prestem atenção à letra”. Cantou num especial da TV Bandeirantes em 1997. Francisco Alves lançou em 1941.
Eu sei que vou te amar (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) (2:24) – Walter Santos (voz) e João Gilberto (violão). A única versão de João em disco é no ao vivo de 1994, que tem o mesmo título da música.
Sem você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) (2:55) – João Gilberto (voz e violão). Inédita. Existe outro registro em áudio, de uma apresentação em Tóquio em 2006.
Cheek to cheek (Irving Berlin) (2:38) – Astrud Gilberto (voz) e João Gilberto (violão). Inédita. Ele para de tocar por não estar gostando da interpretação de Astrud. Em seguida, retomam.
Doralice (Dorival Caymmi e Antônio Almeida) (1:02) – João Gilberto (assobio e violão). Foi lançada pelos Anjos do Inferno em 1945. João a gravou no disco de 1960, O amor, o sorriso e a flor, e também em Getz/Gilberto, lançado em 1964.
Se é tarde, me perdoa (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli) (1:52) – João Gilberto (voz e violão). Ele gravou em O amor, o sorriso e a flor (1960)
Despedida de Mangueira (Benedito Lacerda e Aldo Cabral) (1:08) – João Gilberto (voz e violão). Inédita. Foi lançada por Francisco Alves em 1941.
Trevo de quatro folhas (Mort Dixon e Harry Woods, versão de Nilo Sérgio) (1:51) – João Gilberto (voz e violão). Ele gravou em O amor, o sorriso e a flor (1960) a versão brasileira de I’m looking over a four-leaf clover. Lançada pelos Vocalistas Tropicais em 1949.
Cavalo marinho e Borboleta bonitinha (ambas de domínio público) (2:00) – João Gilberto (voz e violão). Inéditas. São canções tradicionais do Nordeste. A segunda teve uma versão gravada por Marisa Monte.
A primeira vez (Bide e Marçal) (3:32) – João Gilberto (voz e violão). Ele gravou no disco de 1961 que leva o seu nome. Orlando Silva lançou o samba em 1940.
Jeito de flor (João Gilberto e Ronaldo Bôscoli) (2:05) – João Gilberto (voz e violão). Inédita. Única parceria dos dois, composta em 1958 ou 1959. O resultado não satisfez João, como ele diz na faixa seguinte.
Jeito de flor (instrumental); exercícios com Se é tarde, me perdoa; Jeito de flor (instrumental) (4:54) – João Gilberto (voz e violão). Fala de Jeito de flor: “Não gosto disso não, sinceramente. Pra cantar é ruim. É bom pra tocar”. Cansa depois de vários exercícios: “Chega!”.
Se é tarde, me perdoa (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli) (1:57) – João Gilberto (voz e violão). Volta ao samba que gravaria em março do ano seguinte.
Comigo é assim (José Menezes e Luiz Bittencourt) (1:44) – João Gilberto (voz e violão). Faz nova versão da música e volta a pular um verso.
Everyday (A little love) (João Donato) (1:54) – João Gilberto (voz e violão). Instrumental. Inédita. Foi registrada por Coqueijo como “Valsa – Recordação”.