Pouco tempo depois de gravar e lançar “Ela disse-me assim”, em março de 1959, Jamelão foi proibido pela diretoria da Rádio Nacional de cantar a composição de Lupicínio Rodrigues nos microfones da emissora. O motivo? O samba-canção, que versava sobre um caso de adultério, era considerado “pesado demais” e tinha a marca inconfundível de seu autor: retratar amores e seus dissabores tão realistas quanto os de “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues.

A censura imposta pela Nacional – e a consequente curiosidade despertada na massa de ouvintes – serviu como um prato cheio para a gravadora Continental, que correu para botar na praça uma coletânea de sucessos de Jamelão gravados originalmente em discos de 78 rotações entre 1956 e 1959. A faixa que abria e intitulava o LP era, não ocasionalmente, “Ela disse-me assim”.

Na compilação, José Bispo Clementino dos Santos, o popular Jamelão, desfila uma série de sambas-canção, como “Folha morta” (Ary Barroso), “Pense em mim” (Antônio Maria) e “Nem te lembras” (Del Loro), acompanhado pela Orquestra Tabajara, sob a batuta e o clarinete do maestro Severino Araújo. No repertório há também sambas preciosos como “Timbó”, de Ramon Russo, e “Esquina da saudade”, de Alberto Ribeiro, Chiquinho do Acordeon e Radamés Gnattali (codinome Vero).

Repertório

Lado A

Ela disse-me assim (Lupicínio Rodrigues)

Confiança (Luiz de França e Alcebíades Nogueira)

Pense em mim (Antônio Maria)

Como ela é boa (José Bispo)

Folha morta (Ary Barroso)

Esquina da saudade (Radamés Gnattali, Chiquinho do Acordeon e Alberto Ribeiro)

Lado B

Ela está presente (Mariano Fizico)

Três amores (Sebastião Cyrino e Célio Batista)

Há sempre uma que fica (Alcebíades Nogueira e José Bispo)

Frases de um coração (Orlando Mendonça)

Timbó (Ramon Russo)

Nem te lembras (Lourival de Souza (Del-Loro))

Seleção e texto: Lucas Nobile